jueves, 20 de junio de 2013

Luta contra tarifa incendeia o Brasil

Cerca de um milhão de pessoas foram às ruas simultaneamente em 12 capitais e diversas cidades do país no dia 17 de junho; a frase do Movimento Passe Livre “Se a tarifa não baixar, a cidade vai parar” se provou não ser apenas um slogan.

Eduardo Sales, Marcelo Netto Rodrigues, Renato Godoy de Toledo
da Reportagem

O Brasil parou. Cerca de um milhão de pessoas foram às ruas simultaneamente em 12 capitais e diversas cidades do país na última segunda-feira, 17 de junho. A frase do Movimento Passe Livre “Se a tarifa não baixar, a cidade vai parar” se provou não ser apenas um slogan.


Outra surpresa foi que, ao menos em São Paulo (SP), pela primeira vez o número de confirmados em um evento marcado pelo Facebook praticamente se equiparou com o número de pessoas nas ruas. Das 285 mil que haviam dito que participariam do Quinto Ato contra o aumento das passagens, 250 mil pessoas tomaram as ruas. A marcha, que saiu do Largo da Batata, num determinado momento, se subdividiu em três colunas principais. A maior subiu a avenida Brigadeiro Luiz Antônio até a Paulista, percorrendo ao todo 9 km. Uma outra se encaminhou rumo ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, enquanto uma terceira seguiu em direção à sede da Rede Globo, no Brooklin.

Aos gritos de “Que coincidência, sem a polícia, não tem violência”, “Brasil, vamos acordar, o professor vale mais do que o Neymar” e “Vem pra rua, vem, contra o aumento”, os manifestantes da maior coluna caminharam ao longo de todo o trajeto sem que um carro da polícia fosse avistado. O mesmo aconteceu com os helicópteros das redes de TV que estranhamente não sobrevoavam a manifestação. Havia apenas um helicóptero da polícia.

Perigo conservador
Inicialmente, a mídia condenou veementemente as manifestações, classificou os jovens como vândalos e ressaltou a presença de uma classe média sem motivos para revolta. Aos poucos, sobretudo após a brutal ação dos policiais paulistas que feriu 8 jornalistas e centenas de manifestantes, a imprensa começou a demonstrar simpatia e tentou contagiar o movimento com suas pautas, como a condenação de “mensaleiros”, o repúdio à PEC 37 e a violência urbana.
O comentarista da Rede Globo, Arnaldo Jabor, foi um dos primeiros a condenar a ação dos “vândalos”, porém, uma semana depois, voltou atrás e disse estar equivocado. Defendeu os jovens e lhes sugeriu bandeiras como a questão da corrupção e a celeridade em obras do PAC. Outros comentaristas conservadores, como Luiz Felipe Pondé, também passaram a mostrar interesse pelo levante dos jovens. A própria revista Veja estampou na capa uma sugestão para os próximos passos da “revolta dos jovens” -a corrupção e a violência urbana-.
Membros do movimento pela tarifa zero demonstraram-se preocupados com a inclusão de temas defendidos por conservadores. Para eles, isto pode enfraquecer a luta pela revogação imediata do aumento das tarifas. De fato, nas manifestações de São Paulo, algumas das pautas preferidas pela mídia desfilaram nas ruas, como a redução da maioridade penal e o pedido de prisão para “mensaleiros”, ainda que dispersas em meio a uma maioria que bradava pela redução da tarifa e até mesmo exibia cartazes contrários aos meios de comunicação. Alguns portadores de cartazes, já percebendo essa manobra de transformar um protesto legítimo em uma ação despolitizante “contra a corrupção”, de luta “por direitos” e de que finalmente o Brasil “acordou”, traziam consigo frases como “Se você acordou agora, saiba que a periferia nunca dormiu” ou “Saiba que já têm brasileiros acordados há tempos, você que não dava bola”.
A estimativa de 250 mil só em São Paulo ainda é baixa. Baseado em outras coberturas de marchas, como a do MST, de Goiânia a Brasília, em 2005, que contou com a participação de 12 mil pessoas, a reportagem do Brasil de Fato sabe que uma fila única com 15 mil pessoas atinge uma extensão de cerca de 9 quilômetros. A marcha que percorreu o largo da Batata até o fim da Brigadeiro Luís Antônio chegando à Paulista (um trajeto de 9 quilômetros) contava com no mínimo 20 fileiras de pessoas (em alguns momentos 30, outros, 20). Ao considerar um "instante" fotográfico completamente cheio daí já seriam 300 mil pessoas. Considerando que este trajeto não tenha sido preenchido por completo de ponta à ponta no instante de uma fotografia, levamos em conta as outras duas colunas que se encaminharam para o Palácio dos Bandeirantes e para à frente da rede Globo. Um mar de gente que ocupou a marginal Pinheiros e a ponte Estaiada. Por isso, sem medo de errar, no mínimo estiveram nas ruas 250 mil pessoas, só em São Paulo.

Rio e Brasília
No Rio de Janeiro (RJ) as manifestações contaram com com mais de 150 mil pessoas. Para proteger a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), policiais militares utilizaram fuzis e pistolas contra as pessoas.
Em Brasília (DF), 5 mil jovens ocuparam a laje do Congresso Nacional. Além de São Paulo, Rio e Brasília, houve protestos nas seguintes capitais: Belo Horizonte, Fortaleza, Vitória, Maceió, Belém, Salvador, Curitiba, Porto Alegre e Recife.
Manifestações simultâneas e com esses números não ocorriam no país desde o movimento que derrubou Fernando Collor, em 1992.
Os protestos contra o aumento da tarifa de ônibus somaram-se às críticas aos gastos e remoções promovidos pela Copa das Confederações, evento teste para a Copa do Mundo de 2014.
Em mais de 27 cidades no mundo, manifestantes se solidarizaram com os movimentos do Brasil e da Turquia – que passa por um momento de resistência na praça Gezi, em Istambul.

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