Cerca de um milhão de pessoas foram às ruas
simultaneamente em 12 capitais e diversas cidades do país no dia 17 de
junho; a frase do Movimento Passe Livre “Se a tarifa não baixar, a
cidade vai parar” se provou não ser apenas um slogan.
da Reportagem
O
Brasil parou. Cerca de um milhão de pessoas foram às ruas
simultaneamente em 12 capitais e diversas cidades do país na última
segunda-feira, 17 de junho. A frase do Movimento Passe Livre “Se a
tarifa não baixar, a cidade vai parar” se provou não ser apenas um
slogan.
Outra surpresa foi que, ao menos em São Paulo (SP), pela primeira vez o número de confirmados em um evento marcado pelo Facebook praticamente se equiparou com o número de pessoas nas ruas. Das 285 mil que haviam dito que participariam do Quinto Ato contra o aumento das passagens, 250 mil pessoas tomaram as ruas. A marcha, que saiu do Largo da Batata, num determinado momento, se subdividiu em três colunas principais. A maior subiu a avenida Brigadeiro Luiz Antônio até a Paulista, percorrendo ao todo 9 km. Uma outra se encaminhou rumo ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, enquanto uma terceira seguiu em direção à sede da Rede Globo, no Brooklin.
Aos gritos de “Que coincidência, sem a polícia, não tem violência”, “Brasil, vamos acordar, o professor vale mais do que o Neymar” e “Vem pra rua, vem, contra o aumento”, os manifestantes da maior coluna caminharam ao longo de todo o trajeto sem que um carro da polícia fosse avistado. O mesmo aconteceu com os helicópteros das redes de TV que estranhamente não sobrevoavam a manifestação. Havia apenas um helicóptero da polícia.
Perigo conservador
Inicialmente,
a mídia condenou veementemente as manifestações, classificou os jovens
como vândalos e ressaltou a presença de uma classe média sem motivos
para revolta. Aos poucos, sobretudo após a brutal ação dos policiais
paulistas que feriu 8 jornalistas e centenas de manifestantes, a
imprensa começou a demonstrar simpatia e tentou contagiar o movimento
com suas pautas, como a condenação de “mensaleiros”, o repúdio à PEC 37 e
a violência urbana.
O comentarista da Rede
Globo, Arnaldo Jabor, foi um dos primeiros a condenar a ação dos
“vândalos”, porém, uma semana depois, voltou atrás e disse estar
equivocado. Defendeu os jovens e lhes sugeriu bandeiras como a questão
da corrupção e a celeridade em obras do PAC. Outros comentaristas
conservadores, como Luiz Felipe Pondé, também passaram a mostrar
interesse pelo levante dos jovens. A própria revista Veja estampou na
capa uma sugestão para os próximos passos da “revolta dos jovens” -a
corrupção e a violência urbana-.
Membros do
movimento pela tarifa zero demonstraram-se preocupados com a inclusão de
temas defendidos por conservadores. Para eles, isto pode enfraquecer a
luta pela revogação imediata do aumento das tarifas. De fato, nas
manifestações de São Paulo, algumas das pautas preferidas pela mídia
desfilaram nas ruas, como a redução da maioridade penal e o pedido de
prisão para “mensaleiros”, ainda que dispersas em meio a uma maioria que
bradava pela redução da tarifa e até mesmo exibia cartazes contrários
aos meios de comunicação. Alguns portadores de cartazes, já percebendo
essa manobra de transformar um protesto legítimo em uma ação
despolitizante “contra a corrupção”, de luta “por direitos” e de que
finalmente o Brasil “acordou”, traziam consigo frases como “Se você
acordou agora, saiba que a periferia nunca dormiu” ou “Saiba que já têm
brasileiros acordados há tempos, você que não dava bola”.
A
estimativa de 250 mil só em São Paulo ainda é baixa. Baseado em outras
coberturas de marchas, como a do MST, de Goiânia a Brasília, em 2005,
que contou com a participação de 12 mil pessoas, a reportagem do Brasil de Fato
sabe que uma fila única com 15 mil pessoas atinge uma extensão de cerca
de 9 quilômetros. A marcha que percorreu o largo da Batata até o fim da
Brigadeiro Luís Antônio chegando à Paulista (um trajeto de 9
quilômetros) contava com no mínimo 20 fileiras de pessoas (em alguns
momentos 30, outros, 20). Ao considerar um "instante" fotográfico
completamente cheio daí já seriam 300 mil pessoas. Considerando que este
trajeto não tenha sido preenchido por completo de ponta à ponta no
instante de uma fotografia, levamos em conta as outras duas colunas que
se encaminharam para o Palácio dos Bandeirantes e para à frente da rede
Globo. Um mar de gente que ocupou a marginal Pinheiros e a ponte
Estaiada. Por isso, sem medo de errar, no mínimo estiveram nas ruas 250
mil pessoas, só em São Paulo.
Rio e Brasília
No
Rio de Janeiro (RJ) as manifestações contaram com com mais de 150 mil
pessoas. Para proteger a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro (Alerj), policiais militares utilizaram fuzis e pistolas contra
as pessoas.
Em Brasília (DF), 5 mil jovens
ocuparam a laje do Congresso Nacional. Além de São Paulo, Rio e
Brasília, houve protestos nas seguintes capitais: Belo Horizonte,
Fortaleza, Vitória, Maceió, Belém, Salvador, Curitiba, Porto Alegre e
Recife.
Manifestações simultâneas e com esses números não ocorriam no país desde o movimento que derrubou Fernando Collor, em 1992.
Os
protestos contra o aumento da tarifa de ônibus somaram-se às críticas
aos gastos e remoções promovidos pela Copa das Confederações, evento
teste para a Copa do Mundo de 2014.
Em mais de 27
cidades no mundo, manifestantes se solidarizaram com os movimentos do
Brasil e da Turquia – que passa por um momento de resistência na praça
Gezi, em Istambul.
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